Política dita rumo dos mercados
Acordo entre EUA e México na questão da imigração embala o mercado financeiro no exterior, mas ruídos políticos podem frustrar ativos locais

A estratégia “morde e assopra” do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, funcionou com o México e um acordo sobre a imigração ilegal na fronteira firmado entre os dois países suspende “indefinidamente” a sobretaxa aos produtos mexicanos, embalando o mercado internacional nesta segunda-feira. O foco agora se volta para as negociações comerciais com a China, após o inesperado ganho das exportações chinesas em maio.
No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro tenta uma tática semelhante à de Trump, ao dizer que, por culpa da oposição, pode suspender o pagamento a idosos e deficientes de baixa renda a partir deste mês, se não for aprovado o crédito extra ao governo. Enquanto isso, a Operação Lava Jato sofreu um duro ataque (leia mais abaixo), que pode dar fôlego à greve geral convocada para o dia 14.
O caso promete agitar o ambiente político esta semana, elevando a tensão entre os Três Poderes. Só o ameaça de Bolsonaro já joga pressão no Legislativo, tocando na “menina dos olhos” do Congresso, com a clara intenção de apressar a votação para liberar recursos emergenciais da ordem de R$ 250 bilhões. Segundo o presidente, sem a aprovação do projeto de lei, o chamado BPC seria suspenso já no próximo dia 25.
Nos meses seguintes, faltarão recursos para aposentadorias, Bolsa Família, Plano Safra - que pode nem ser anunciado. A justificativa para a suspensão desses serviços é que o governo não pode descumprir a chamada “regra de ouro”, que impede o Executivo de emitir dívidas para pagar despesas correntes, sob o risco de cometer crime de responsabilidade - o que pode culminar em um processo de impeachment.
A expectativa é de que a matéria seja votada até sexta-feira, com os parlamentares viabilizando a aprovação. A questão é que o BPC é um dos pontos mais polêmicos no texto do governo para a reforma da Previdência e deve sofrer alterações na proposta a ser apresentada pelo relator, Samuel Moreira. Outros pontos que devem passar por mudanças envolvem as regras da aposentadoria rural, o pagamento do abono salarial e as regras de transição.
Com isso, ficou para quinta-feira a apresentação à comissão especial do parecer do relator. Inicialmente, a expectativa era de que o documento fosse apresentado amanhã, após reunião com governadores, quando os representantes das 27 unidades da federação devem defender a manutenção dos servidores estaduais e municipais no texto a ser apreciado no plenário da Câmara - mas muitos deputados são contra.
Leia Também
Vaza Jato
Mas é de outro poder, do Judiciário, que pode vir um teste do bom humor nos ativos locais. Reportagens publicadas pelo jornalista Glenn Greenwald - que ficou conhecido por ajudar Edward Snowden a revelar informações secretas obtidas pela Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA) - pode instalar uma crise em um mês festivo que parecia tranquilo.
Segundo o site The Intercept, o ex-juiz federal e atual ministro da Justiça, Sergio Moro, interferiu nas investigações da Lava Jato. Ao longo de dois anos de conversas, com mensagens trocadas pelo aplicativo Telegram, Moro, cujo codinome era “russo”, sugeriu trocar a ordem das fases, deu conselhos e pistas informais, além de antecipar decisões.
A Constituição determina que não haja vínculos entre o juiz e as partes em um processo. No Congresso e na Corte Suprema (STF) devem haver manifestações a favor e contra Moro, enquanto Bolsonaro terá de ser cuidadoso com suas declarações. As reportagens, que estão apenas começando, elevam a temperatura em Brasília.
Com isso, o noticiário político deve continuar ditando o rumo dos mercados domésticos no curto prazo. Os ruídos políticos persistem, podendo frustrar a confiança dos investidores, que levou à valorização do Ibovespa e do real pela terceira semana seguida no início deste mês, ao passo que os juros futuros retiraram prêmios, com apostas de cortes na Selic.
É crescente a percepção de que o Banco Central deve renovar o piso histórico do juro básico logo após a aprovação da Previdência e se a economia seguir fraca. O resultado abaixo do esperado da inflação oficial ao consumidor (IPCA) em maio ampliou essa chance, precificando ao menos uma queda na Selic neste ano, provavelmente em setembro.
Caso esse cenário seja acompanhado também de redução nas estimativas para o IPCA em 2020, o mercado financeiro pode caminhar para um segundo - quiçá terceiro - corte antes do fim de 2019, já que muitas instituições financeiras preveem a Selic em 5,75% neste ano. No relatório Focus, porém, a previsão está estável em 6,50% há 17 semanas.
Doutrina Trump
Já o ambiente externo também tem se mostrado favorável aos ativos de risco, com o mercado financeiro ampliando as chances de queda dos juros norte-americanos (Fed Funds). Após os fracos dados oficiais sobre o emprego nos EUA (payroll) em maio, divulgados na última sexta-feira, os investidores estão cada vez mais convencidos de que o ciclo de cortes por parte do Federal Reserve começa ainda neste ano.
A curva implícita de juros futuros nos EUA embute quase 70% de possibilidade de queda nos juros do país em julho, para o intervalo de 2% a 2,25%, dos atuais 2,25% a 2,50%. Mas há quem diga que ainda é preciso avaliar se o payroll do mês passado não foi apenas um ponto fora da curva. Afinal, é difícil a economia norte-americana continuar criando quase 200 mil vagas ao mês, tendo em vista a quantidade de pessoas empregadas.
Em maio, foram geradas 75 mil postos de trabalho, bem abaixo da previsão de 185 mil, mas a taxa de desemprego ficou estável em 3,6%, no menor nível em 49 anos, mostrando que a população desocupada não está pressionando a força de trabalho. Além disso, espanta que o crescimento dos salários segue ao ritmo de 3%, em base anual, mas sem gerar pressão inflacionária.
Ainda assim, os números podem mesmo denotar um achatamento forte do emprego nos EUA, abrindo espaço para o Fed agir. A expectativa de que a economia norte-americana entre em rota de desaceleração e, eventualmente, em recessão - por causa da guerra comercial com a China - permitiria até três reduções nos juros dos EUA até o início de 2020.
Mas ao menos com o México, o resultado das negociações comerciais foi satisfatório, mostrando a influência da América sobre os vizinhos latinos. Trump suspendeu os planos de impor tarifas aos produtos mexicanos, após o presidente AMLO concordar em “tomar medidas fortes” para conter o fluxo de imigrantes da América Central aos EUA.
Em reação, o peso mexicano saltou ao maior nível em quase um ano em relação ao dólar, ao passo que os índices futuros das bolsas de Nova York avançam, juntamente com o sinal positivo vindo das praças europeias e asiáticas (e região), apesar de feriados na Alemanha e na Austrália.
Após o resultado positivo com o México, os investidores alimentam esperanças de que também haverá um acordo comercial entre EUA e China. Mas a disputa entre as duas maiores economias do mundo é bem diferente, com contornos geopolíticos. Segundo o secretário do Tesouro norte-americano, Stven Mnuchin, o “principal progresso” deve acontecer no encontro entre Trump e o líder chinês, Xi Jinping, no G20, no Japão.
Os dados da balança comercial chinesa em maio, que contrariaram a previsão, mantêm a tensão elevada. Enquanto as exportações subiram 1,1%, em base anual, as importações cederam 8,5%. Em ambos os casos, a previsão era de recuo de 4,0%. Com isso, o superávit comercial da China somou US$ 41,65 bilhões no mês passado, acima da estimativa de US$ 23,65 bilhões. Há relatos de que exportadores chineses estão evitando o impacto das tarifas de Trump com rótulos falsos dos produtos como “feitos no Vietnã”.
De volta aos mercados, os títulos dos EUA recuam, acompanhados do ouro e do iene, em meio à menor busca por proteção. A moeda japonesa é prejudicada pelas declarações do presidente do BC do Japão (BoJ), que pode lançar mais estímulos, se necessário. Já o petróleo avança, com o barril do tipo WTI cotado no maior valor em mais de uma semana.
Dados de atividade e inflação recheiam agenda
Dados de atividade no Brasil e no mundo recheiam a agenda desta semana, podendo lançar luz sobre o ritmo da economia global na virada do primeiro para o segundo trimestre deste ano. Por aqui, os destaques ficam com as vendas no varejo, na quarta-feira, e com o desempenho do setor de serviços, no dia seguinte - ambos em abril.
Com isso, o índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br) referente ao mesmo mês deve ser conhecido na sexta-feira, juntamente com o primeiro IGP de junho, o IGP-10. Hoje, a autoridade monetária publica, às 8h25, a pesquisa semanal junto ao mercado financeiro (8h25). Amanhã, sai a estimativa atualizada da safra agrícola em 2019.
Já no exterior, a China anuncia, amanhã à noite, os dados de maio da inflação ao produtor (PPI) e ao consumidor (CPI). Na noite de quinta-feira, é a vez dos resultados da indústria e do varejo o mês passado. Nos EUA, o PPI sai amanhã e o CPI, na quarta-feira. Na sexta-feira, serão conhecidos os dados da produção industrial e do comércio varejista.
No mesmo dia, sai também a leitura preliminar deste mês do índice de Michigan sobre a confiança do consumidor norte-americano. Na Europa, serão conhecidos dados de atividade no Reino Unido já nesta segunda-feira. Na quinta-feira, é a vez do desempenho da indústria na zona do euro em abril.
Powell na mira de Trump: ameaça de demissão preocupa analistas, mas saída do presidente do Fed pode ser mais difícil do que o republicano imagina
As ameaças de Donald Trump contra Jerome Powell adicionam pressão ao mercado, mas a demissão do presidente do Fed pode levar a uma longa batalha judicial
Batalha naval: navios da China entram na mira das tarifas americanas — mas, dessa vez, não foi Trump que idealizou o novo imposto
As autoridades americanas chegaram à conclusão que a China foi agressiva para estabelecer dominância no setor de construção naval
Guerra comercial de Trump está prejudicando a economia do Brasil? Metade dos brasileiros acredita que sim, diz pesquisa
A pesquisa também identificou a percepção dos brasileiros sobre a atuação do governo dos Estados Unidos no geral, não apenas em relação às políticas comerciais
Com ou sem feriado, Trump continua sendo o ‘maestro’ dos mercados: veja como ficaram o Ibovespa, o dólar e as bolsas de NY durante a semana
Possível negociação com a China pode trazer alívio para o mercado; recuperação das commodities, especialmente do petróleo, ajudaram a bolsa brasileira, mas VALE3 decepcionou
‘Indústria de entretenimento sempre foi resiliente’: Netflix não está preocupada com o impacto das tarifas de Trump; empresa reporta 1T25 forte
Plataforma de streaming quer apostar cada vez mais na publicidade para mitigar os efeitos do crescimento mais lento de assinantes
Lições da Páscoa: a ação que se valorizou mais de 100% e tem bons motivos para seguir subindo
O caso que diferencia a compra de uma ação baseada apenas em uma euforia de curto prazo das teses realmente fundamentadas em valuation e qualidade das empresas
Show de ofensas: a pressão total de Donald Trump sobre o Fed e Jerome Powell
“Terrível”, “devagar” e “muito político” foram algumas das críticas que o presidente norte-americano fez ao chefe do banco central, que ele mesmo escolheu, em defesa do corte de juros imediato
Mirou no que viu e acertou no que não viu: como as tarifas de Trump aceleram o plano do Putin de uma nova ordem mundial
A Rússia não está na lista de países que foram alvo das tarifas recíprocas de governo norte-americano e, embora não passe ilesa pela efeitos da guerra comercial, pode se dar bem com ela
Sobrevivendo a Trump: gestores estão mais otimistas com a Brasil e enxergam Ibovespa em 140 mil pontos no fim do ano
Em pesquisa realizada pelo BTG, gestores aparecem mais animados com o país, mesmo em cenário “perde-perde” com guerra comercial
Mudou de lado? CEO da Nvidia (NVDC34), queridinha da IA, faz visita rara à China após restrições dos EUA a chips
A mensagem do executivo é simples: a China, maior potência asiática, é um mercado “muito importante” para a empresa, mesmo sob crescente pressão norte-americana
Dólar volta a recuar com guerra comercial entre Estados Unidos e China, mas ainda é possível buscar lucros com a moeda americana; veja como
Uma oportunidade ‘garimpada’ pela EQI Investimentos pode ser caminho para diversificar o patrimônio em meio ao cenário desafiador e buscar lucros de até dólar +10% ao ano
Que telefone vai tocar primeiro: de Xi ou de Trump? Expectativa mexe com os mercados globais; veja o que esperar desta quinta
Depois do toma lá dá cá tarifário entre EUA e China, começam a crescer as expectativas de que Xi Jinping e Donald Trump possam iniciar negociações. Resta saber qual telefone irá tocar primeiro.
É hora de aproveitar a sangria dos mercados para investir na China? Guerra tarifária contra os EUA é um risco, mas torneira de estímulos de Xi pode ir longe
Parceria entre a B3 e bolsas da China pode estreitar o laço entre os investidores do dois países e permitir uma exposição direta às empresas chinesas que nem os EUA conseguem oferecer; veja quais são as opções para os investidores brasileiros investirem hoje no Gigante Asiático
Status: em um relacionamento tóxico com Donald Trump
Governador da Califórnia entra com ação contra as tarifas do republicano, mas essa disputa vai muito além do comércio
Taxa das blusinhas versão Trump: Shein e Temu vão subir preços ainda este mês para compensar tarifaço
Por enquanto, apenas os consumidores norte-americanos devem sentir no bolso os efeitos da guerra comercial com a China já na próxima semana — Shein e Temu batem recordes de vendas, impulsionadas mais pelo medo do aumento do que por otimismo
Por essa nem o Fed esperava: Powell diz pela primeira vez o que pode acontecer com os EUA após tarifas de Trump
O presidente do banco central norte-americano reconheceu que foi pego de surpresa com o tarifaço do republicano e admitiu que ninguém sabe lidar com uma guerra comercial desse calibre
O frio voltou? Coinbase acende alerta de ‘bear market’ no setor de criptomoedas
Com queda nos investimentos de risco, enfraquecimento dos indicadores e ativos abaixo da média de 200 dias, a Coinbase aponta sinais de queda no mercado
Guerra comercial EUA e China: BTG aponta agro brasileiro como potencial vencedor da disputa e tem uma ação preferida; saiba qual é
A troca de socos entre China e EUA força o país asiático, um dos principais importadores agrícolas, a correr atrás de um fornecedor alternativo, e o Brasil é o substituto mais capacitado
Nas entrelinhas: por que a tarifa de 245% dos EUA sobre a China não assustou o mercado dessa vez
Ainda assim, as bolsas tanto em Nova York como por aqui operaram em baixa — com destaque para o Nasdaq, que recuou mais de 3% pressionado pela Nvidia
Ações da Brava Energia (BRAV3) sobem forte e lideram altas do Ibovespa — desta vez, o petróleo não é o único “culpado”
O desempenho forte acontece em uma sessão positiva para o setor de petróleo, mas a valorização da commodity no exterior não é o principal catalisador das ações BRAV3 hoje