A Bula da Semana: Guerra esfria
Progresso nas negociações comerciais entre EUA e China abre caminho para acordo parcial, mas incertezas ainda existem
Os mercados financeiros comemoraram a notícia, na última sexta-feira, de que Estados Unidos e China alcançaram um acordo comercial parcial, que deve ser assinado no mês que vem pelos presidentes Donald Trump e Xi Jinping, durante a cúpula dos países da Ásia-Pacífico (Apec), no Chile. Com isso, as duas maiores economias do mundo voltaram ao modo negociador, após meses de escalada da tensão.
Mas ainda é difícil saber se essa postura será mantida até novembro, ou mesmo durante as próximas fases de negociação - são esperadas ao menos mais duas. O próprio Trump é avesso a termos parciais e costuma adotar uma postura dura, pressionando os rivais para obter tudo o que quer, de uma só vez. Por isso, as incertezas em relação ao acordo devem durar até que a primeira etapa seja superada, daqui a três a cinco semanas.
O risco é de que, antes disso, as negociações entrem em colapso de novo, já que há precedentes de quebra de acordo. A consistência da postura lado americano é o maior teste. A própria imprensa chinesa evitou festejar o progresso nas negociações comerciais, durante a mais recente rodada, em Washington, mostrando a preocupação de Pequim com a assinatura de acordo com Trump.
Seja como for, definitivamente o resultado das negociações da semana passada é claramente melhor que o esperado. O problema é que o acordo ainda não é substancial. Por mais que os termos alcançados adiem novas tarifas contra produtos chineses a partir de amanhã, as tarifas anteriores já adotadas não foram retiradas. Da mesma forma, as empresas chinesas seguem na “lista negra” da Casa Branca.
Mais rali?
Portanto, as principais questões econômicas seguem sem solução. Ou seja, os contornos do “mini acordo” não alteram os desafios em relação à desaceleração da economia global, que causaram estragos nos EUA, China e vários outros países. Dados econômicos desta semana tendem a reforçar essa percepção, com destaque para o PIB chinês no trimestre passado e o desempenho da indústria e do varejo norte-americano em setembro.
Assim, por mais que seja positivo, o acordo parcial não tende a ampliar o rali dos ativos de risco, que devem continuar respeitando o intervalo recente de negociação. Isso significa que será difícil o Ibovespa superar a máxima histórica, acima dos 105 mil pontos, e o dólar cair abaixo da faixa de R$ 4,00, que vem sendo mantida desde meados de agosto, simplesmente por conta do esfriamento da tensão comercial.
Leia Também
Para ir além, é preciso que um acordo mais amplo entre as duas maiores economias do mundo seja anunciado. Afinal, encerrar a guerra comercial significa remover todas as tarifas impostas, eliminando as perdas sofridas em toda a cadeia produtiva. Só assim, será possível os ativos globais superarem barreiras com mais consistência.
Ainda assim, as compras de produtos agrícolas a serem feitas pela China e comentários ainda não detalhados sobre a propriedade intelectual e a manipulação da moeda, que irão constar no “mini acordo”, podem consertar parte dos estragos causados nos mercados financeiros desde que a disputa comercial começou, há um ano e meio.
Mas servem apenas para acalmar os nervos dos investidores. Portanto, os dois lados ainda precisam chegar a um acordo definitivo e amplo. E, por mais que Trump tenha festejado, o acordo parcial tem um alcance muito menor do que o que ele próprio imaginou ou do que estava sendo colocado à mesa quando as negociações foram interrompidas, em maio.
Guerra x BCs
Enquanto a disputa entre EUA e China durar, os investidores tendem a buscar refúgio na postura suave (“dovish”) dos bancos centrais, acreditando que os estímulos monetários serão capazes de mitigar o impacto da guerra comercial na atividade. Por isso, serviu de alívio o anúncio do Federal Reserve, de que irá comprar cerca de US$ 60 bilhões por mês em títulos norte-americanos de curto prazo (T-bill), ao menos até 2020.
O volume é três vezes maior do que as compras mensais a serem feitas pelo BC europeu (BCE). Embora tenha negado que se trate de um novo programa de afrouxamento monetário (QE, na sigla em inglês), nos moldes do que foi visto em três edições após a crise de 2008, a medida irá expandir o balanço do Fed, injetando liquidez no sistema financeiro. Além disso, irá retirar pressão sobre o mercado interbancário dos EUA.
No Brasil, os dados fracos do IPCA de setembro e a revisão do IBGE no cálculo do índice oficial de preços ao consumidor brasileiro levou o mercado financeiro a projetar inflação e juros básicos mais baixos em 2019 e em 2020, estimulando ainda mais a atividade doméstica, que tem apresentado um desempenho melhor que o esperado. Essas estimativas devem estar contempladas no relatório de mercados Focus desta semana.
Apesar de não parecer relevante, o efeito da mudança promovida pelo IBGE no cálculo do IPCA não só abre espaço para que a Selic seja menor neste ano, indo à mínima de 4,5%, como facilita que a taxa siga em um nível baixo por mais tempo, no decorrer do ano que vem. Essa visão retirou os prêmios da curva de juros futuros de forma intensa. Também merece atenção o índice de atividade econômica do BC (IBC-Br), que deve confirmar a melhora da economia brasileira no terceiro trimestre deste ano.
Ao longo dos próximos dias, o calendário econômico doméstico perde força, o que desloca as atenções para a agenda no exterior, que traz como destaque dados de atividade nos EUA e na China. Também tem início a safra de balanços norte-americana, com destaque para os resultados trimestrais dos bancos JPMorgan, Citigroup e Bank of America, a partir de amanhã.
Confira a seguir os principais destaques desta semana, dia a dia:
Segunda-feira: A semana começa com um feriado nos EUA, mas a agenda no exterior traz a produção industrial na zona do euro em agosto e a inflação ao consumidor chinês em setembro. No Brasil, merecem atenção o relatório de mercado Focus (8h25) e o IBC-Br de agosto (9h). Também são esperados dados da balança comercial brasileira (15h).
Terça-feira: O calendário econômico está mais fraco hoje e traz apenas o índice Empire State de atividade na manufatura em outubro. Na temporada de balanços, saem os resultados financeiros de JP Morgan, Citigroup e Wells Fargo.
Quarta-feira: As vendas no varejo dos EUA em setembro são os destaques do dia, que traz também, no Brasil, o primeiro IGP de outubro, o IGP-10. Merece atenção ainda o Livro Bege, do Federal Reserve. Na safra norte-americana, destaque para o balanço do Bank of America.
Quinta-feira: Dados do setor imobiliário norte-americano recheiam a agenda do dia, que traz como destaque a produção industrial nos EUA em setembro. No fim do dia, a China divulgado o desempenho do PIB no terceiro trimestre deste ano, juntamente com os dados de setembro sobre a produção industrial, as vendas no varejo e o investimento em ativos fixos.
Sexta-feira: A semana termina com os indicadores antecedentes nos EUA referentes ao mês passado e a segunda prévia deste mês do IGP-M. Também merece atenção o discurso do vice-presidente do Fed, Richard Clarida, sobre política monetária e perspectiva econômica nos EUA.
Felipe Miranda: Carta ao Presidente
Presidente, há como arrumar o Brasil ainda no seu mandato e evitar uma grande crise. Mas talvez essa seja sua última chance. Se esperarmos bater no emprego e na inflação para, só então, agir, pode ser tarde demais
Petrobras (PETR4) rescinde contrato para venda de campos após Brava (BRAV3) descumprir condição do negócio
Petrobras havia fechado a cessão dos campos em águas profundas no pós-sal da Bacia de Santos no fim do ano passado
A B3 vai abrir no Natal e no Ano-Novo? Confira o funcionamento da bolsa, dos bancos, dos Correios e dos transportes públicos no fim de 2024
O recesso de Natal e Ano-Novo afetará os horários e atendimentos de bancos, Correios, transporte e até da bolsa brasileira
IPCA-15 e dados do Caged são destaques da agenda econômica do Natal
Apesar da paralisação dos mercados durante o Natal, a agenda econômica desta semana contará ainda com a publicação do PIB do Reino Unido e ata da reunião de política monetária do Japão
Ficou barata? Simpar (SIMH3) lança programa de recompra após ações perderem 65% do valor na B3
A companhia pretende adquirir até 35,72 milhões de papéis, equivalente a 15% do total de ações SIMH3 atualmente em circulação no mercado
Quando a ficha cai: Ibovespa reage a pacote fiscal, leilões de dólar e risco de paralisação do governo dos EUA
Pacote fiscal apresentado pelo governo deve encerrar seu trâmite pelo Congresso Nacional ainda nesta sexta-feira
A bolsa está caindo, mas este sinal me deixa bem mais confiante para o longo prazo
Não é hora de vender suas ações, mesmo que elas estejam sangrando. Mas também não é para comprar qualquer porcaria.
Disparada do dólar: Campos Neto descarta ‘dominância fiscal’ ao passar bastão para Galípolo, que não vê ataque especulativo contra o real
Roberto Campos Neto e Gabriel Galípolo concederam entrevista coletiva conjunta na apresentação do Relatório Trimestral de Inflação
Dólar a R$ 6,30: Quais são as ações ‘ganhadoras’ e as ‘perdedoras’ com o real fraco em 2025? BTG Pactual responde
Em relatório, banco destaca positivamente as empresas que têm receitas em dólar e custos em reais
O preço da ambição de Rubens Ometto: como os juros altos podem pesar sobre as finanças da Cosan (CSAN3) em 2025
As ações do conglomerado já perderam mais de 55% do valor desde janeiro, garantindo posição de destaque entre as empresas do Ibovespa com pior desempenho em 2024
Ação histórica do BC tira dólar dos R$ 6,30: moeda americana recua 2,27% e Ibovespa fecha nos 121 mil pontos após dia de caos nas bolsas
Em Wall Street, bolsas ensaiam recuperação depois do tombo do dia anterior; por lá, BC sinaliza menos cortes de juros em 2025 e Trump faz declaração polêmica
Mais investimentos no Oriente Médio: Weg (WEGE3) anuncia construção de nova fábrica na Turquia por 28 milhões de euros
O anúncio do novo empreendimento vem poucos meses depois da compra da fabricante turca de motores elétricos Volt Eletric Motors
Ação da Cury ficou barata? Por que a construtora quer tirar 10% dos papéis CURY3 de circulação na bolsa
Existem diversos motivos que levam uma empresa como a Cury a aprovar um programa de recompras robusto como esse; entenda o que está por trás da decisão
Um quarto sem janela: Ibovespa busca recuperação de banho de sangue de olho no PIB dos EUA e no RTI
Roberto Campos Neto e Gabriel Galípolo concedem entrevista coletiva conjunta depois da apresentação do Relatório Trimestral de Inflação
O banho de sangue do Fed nas bolsas: dólar a R$ 6,27, Ibovespa abaixo dos 121 mil pontos e Dow Jones na pior sequência em 50 anos
O banco central norte-americano cortou os juros como o mercado esperava, mas foram as projeções e o que Jerome Powell disse depois que azedaram o humor dos investidores aqui e lá fora
O investidor gringo não vai salvar a bolsa brasileira: 2025 será um ano longo para quem investe em ações na B3, segundo o BTG
Atualmente existe uma alocação em bolsa muito baixa em relação à média histórica e valuations descontados na B3 — mas o banco não vê gatilhos de alta mesmo assim; entenda
Ainda estou aqui: o recado do maior banco central do mundo sobre os juros antes da chegada de Trump e que derrubou as bolsas e fez o dólar disparar
O Federal Reserve cortou os juros em 25 pontos-base como indicavam as apostas do mercado e dá um spoiler do que pode acontecer a partir de 2025, quando o governo norte-americano será comandado pelo republicano
O céu é o limite para o dólar: Banco Central despeja US$ 12,7 bilhões no mercado em 4 dias. Por que a moeda americana não baixa?
A sazonalidade de dezembro, somada com uma tentativa de escapar de uma possível taxação, ajudaram a sustentar o câmbio elevado — mas essa não é a única explicação
Dólar a R$ 6,26: o choque de credibilidade que faz a moeda americana disparar por aqui, segundo o Itaú
A política monetária norte-americana e o retorno de Donald Trump à Casa Branca explicam parte da valorização do dólar no mundo, mas há muito mais por trás desse movimento
Melnick (MELK3) fecha parceria para atuar em projeto com apartamentos de mais de R$ 100 milhões no litoral de Santa Catarina
Empresa já está negociando outras parcerias no estado; Projeto Tempo, da incorporadora Müze, quer levar o Hotel Emiliano para a costa catarinense